Uma pitada de dívidas regada a muita pele oleosa

por Fernando LuferVocê abriria mão de uma das posições mais celebradas na sua área profissional para cumprir com o último desejo de um irmão recém-falecido? Acredito que não, até porque, em tempos de exaltação de si mesmo e de individualismo ao extremo, renunciar algo tão grandioso por conta de sentimentos genuínos não é o forte da nossa geração. Porém, não é o caminho escolhido por Carmen (isso mesmo, Carmen), o protagonista da série The Bear, da Star+.Renomado chef de cozinha de um restaurante...

Risos no Jardim de Infância

por Fernando LuferAs ideias simples tendem a ser, senão as mais interessantes, as que mais geram identificação quando desenvolvidas da maneira certa. A série que vou iniciar aqui neste espaço de conversa, crítica ou sei lá o que, seria muito bem desenvolvida no Brasil, não necessariamente pela estética, mas pelo conteúdo e, sobretudo, pelos seus personagens: professores (sofredores) do ensino infantil e fundamental. Vou comentar sobre Abbott Elementary.Criada pela atriz e roteirista Quinta Bruns...

Sobre o que a gente faz com o que fizeram com a gente

[Partes deste texto foram tiradas de um post que fiz meses atrás no meu perfil pessoal no Instagram.]No meu último aniversário, ganhei de presente da minha amigona Bruna a autobiografia da Viola Davis, Em busca de mim, escrita durante a pandemia. Fico impressionado com a capacidade que a Bruna tem de dar os presentes certos no momento certo.As tarefas cotidianas e outras leituras me impediram de devorá-lo imediatamente — conseguia ler pouquíssimas páginas por dia — até que, no final do ano passa...

Quando o tempo é espiralar

“Então sentiu que desde sempre o som do mundo havia sido a sua voz”por Fernando LuferQueria que outra coisa tivesse me provocado a escrever esta crítica. Juro. Queria falar sobre outra coisa. O meu desejo era de iniciar neste espaço com leveza — interrompendo por dois ou três minutos o peso do mundo e seus desdobramentos -, mas é impossível fazer isso estando no Brasil e neste contexto histórico. Os constantes casos de pessoas submetidas a trabalhos análogos à escravidão que aparecem de tempos e...

‘I May Destroy You’

Por trazer um recorte específico e pouco comum de Londres, a série cria uma roupagem condizente com o seu propósito. O ar soturno da noite é preenchido por cores neon, com destaques para o rosa e o azul. A fotografia consegue destacar os múltiplos tons de pele negra do elenco — um desafio para televisão ou para o cinema — , mérito do diretor de fotografia Adam Gilham. Além disso, é preciso destacar o figurino e toda a caracterização dos personagens. Cada peça tem relação direta com quem a usa se...